quinta-feira, 16 de outubro de 2008

COLUNA SOCIAL

As chamadas “notas” são para se fazer notar. Mas há ainda, os avisos, comentários, fotos enfileiradas, tudo para dispor a vida social em seus retalhos. Seletivos, claro. As notas plantam os acontecimentos na conformidade que se quer ou espera, mas que não se tem ao fechar o jornal. Os avisos profetizam o que estará conforme no futuro próximo. Quanto aos comentários, contam breves histórias que as imagens autorizam; “...fulano conversa sobre a feira de livros com sicrana...”. A partir deles, é possível criar toda sorte de crônicas e contos, porque tudo é possível e nada é toda a verdade. Chegamos às fotos. Muitas. Coloridas e diversas. Tão naturais... Diante delas, não se deve buscar coerência com nossas vidas; são descontínuas, porém em harmonia com o bem-viver. Então, vejamos. Nesta primeira foto, empunhando copos e sorrisos, estão dois jovens. Mas não são os jovens da vida ordinária que freqüento; são jovens com traços e vestes dignos de resenha. Ali, cheios de contentamento em flúor, parecem desocupados da vida ocupada. Não são apenas dignos da embriaguez social, são merecedores de atenção viscosa, porque são personalidades de destaque. Atores de cinema, diz a legendinha. Em duas linhas a coluna informa os nomes, onde estavam, quais filmes gravam e porquê se divertiam tanto. Esta outra foto, menor, enquadra uma mulher que — ora vejam, que surpresa! — é linda, elegante e feliz. Outras pessoas ao fundo são apenas fundo. Novamente, nome, local, data e o registro de seu interesse em ficar entre colunáveis. Abaixo, duas fotos reveladoras. Na primeira, dois homens ilustres brindam ao champagne; e na foto ao lado, duas esposas de políticos folheiam um livro de boas maneiras sociais. Etiqueta. Qual social? Em ambas as fotos, percebo que sofrem de viver. E fico com a sensação de que padeço de vida. Num esforço para escapar das garras do tédio, fixo-me neste enquadramento da vida noturna que não desfruto, e bem sei. Faltam duas fotos. Grandes. Também alegres em sustentar copos e flashs, dois casais se espremem entre os limites da vida social impressa e se projetam, felizes de dar dó, às minhas vistas. Muitos nomes, local e... não deu o espaço. E na última foto — fácil de adivinhar — há um jovem e moderno casal, sem copos, com largos sorrisos, despreocupados, sustentando no braço paterno o filho. Transbordam de orgulho social. Esta criança me chama atenção, porque está cheia de enfado e isto não combina com a infância. Graúdos e miúdos mantém diariamente os desejos alimentados de soslaio, à noite, sob lua fria e irônica como testemunha. Nada viola o equilíbrio daquela vida em jornal, e eu me vejo como um alvo fácil para o esquecimento. Vai ver quando eu tiver legenda descarno o social.
Profª Mônica Sydow Hummel.

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